é terrível falar com o muro.
não só pelo fato de que ele não vai ouvir. mas também pelo fato de que ele não vai falar nada.
antes, o que é pior, a sensação de ser completamente incompreendido. É como falar com o muro.
Falar e não ser entendido. não um mal-entendido. o entendimento algum. Talvez os ouvidos, talvez a voz, ou a fala. Talvez a quem se fala.
Aqui a imagem do louco no hospício, que diz, diz, diz, e para o psiquiatra ele não diz nada. ou se diz, diz loucuras! diz aquilo que somente atesta sua loucura. diz o que já está decifrado de antemão. diz o já ouvido.
mas nunca se diz a mesma coisa. até nas repetições “patológicas” de uma mesma palavra; a emergência nunca é isolada do que acontece ao redor, antes e no ato.
Mas ainda, gritar no mundo dos surdos. Não no sentido de que haveria algo a ser explicado, ou expresso. Mas, talvez, simplesmente a ser ouvido. Palavras divinas?
O muro não é só muro. além de dividir dois lados, criar um dentro e um fora, acaba por servir de proteção a uma das faces, a um dos lados. De maneira que, do outro lado, existiria somente as forças da destruição - toda uma mitologia nasce aí. Tanto o muro literalmente, quanto o muro enquanto circunscrição ou delimitação.
Falar com o muro. Ninguém de dentro fala com o muro. é antes aquele que está do lado de fora que diz algo. não porque precisa falar, mas talvez porque os de dentro precisem ouvir uma voz do exterior. e como geralmente estes nunca ouvem, de fato alguns andam por aí falando com o muro.
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