13 giu 2009

Confissões

Há duas semanas que só falo da minha família.

Me diz o que te vem à mente, o que você quiser.
Eu dormi mal. Há algum tempo que durmo mal.

Eu nunca soube começar um assunto assim, do nada. Mas quando você está pagando pra alguém te ouvir, o melhor é começar a aprender. E a gente sempre se força a pensar em algo fundamental. Ele diz que não é necessário, mas você sente que o é só pela maneira como ele seleciona, da sua fala, o que comentar.

Eu dormi mal, sabe. Fico muito ansiosa, penso em várias coisas ao mesmo tempo. Parec...parece que não posso controlar. E vem uma angústia. É horrível estar sozinha em alguns momentos;

Ele está lá te ouvindo, e de repente te interrompe. Faz uma pergunta com um ar misterioso, quer saber o que é estar sozinha para você. E você diz o mais óbvio. Eu digo o mais óbvio: é estar sem ninguém ao seu redor, em silêncio.

Mas ao mesmo tempo você não gosta muito de gente, disse que se sente invadida pelos olhares.
Eu adoro me sentir sozinha. Há solidões e solidões, gentes e gentes.

Para mim é muito claro que quando gosto de estar sozinha, não gosto de estar com outras pessoas e quando quero estar com os outros não quero estar sozinha. Que a solidão quando você está prestes a se jogar não é a mesma daquela que se sente quando nadamos. E que estar em companhia de outros que estão vivendo, trabalhando , enfim, na vida, não é o mesmo que estar no mesmo ambiente com aqueles que te violentam a cada olhar.

Mas você gosta ou não gosta de gente, de estar sozinha?
É horrível estar sozinha em alguns momentos; mas eu também não gosto de gente.

Ele adora que eu me posicione com relação às pessoas, aos sentimentos, à mim mesma. Eu posso me posicionar, mas não sempre da mesma forma.

Me fala do seu tio.
Ele é um ignorante, é surdo, prepotente, ao invés de pensar que não está escutando, pensa que os outros não estão falando direito.
Mas você não disse que age dessa maneira?
...

Sim, eu ajo de muitas maneiras. Ajo como minha mãe, meu pai, minha irmã, meu cachorro, ajo inclusive de maneira muitíssimo parecida à pessoas que eu nem mesmo conheço. No mais, vez ou outra meu comportamento parece com o de uma batata. A analogia entre o meu tio e eu. Ou eu e o meu pai. Para não ser eles eu tenho que ser o oposto deles? E se for o oposto deles, não os estaria imitando da mesma forma?

É, ajo sim. Como o meu tio.
Hum, interessante.

Será que ele acha que me fez ver alguma coisa? Uma contradição no discurso? Porque já percebi que uma contradição no discurso é sinal de problemas ainda não resolvidos. Psicanalistas parecem levar a sério o tal do terceiro excluído: virou até questão de cura.

Eu achei maravilhosa aquela frase que você falou na sessão passada, que o cachorro estava em todos os lugares. Você vê? Ele está em todos os lugares e você se sente sem lugar.
...

Vou trazer aquele demônio pra morar com ele por algumas semanas. Duvido que ele consiga ler Lacan com aqueles latidos constantes: e vai provavelmente desenvolver o mesmo problema da ausência de espaço.

Meu ex era psicanalista.
Não se preocupe, comigo você não terá os mesmos problemas que teve com ele.

Claro que ele pensa isso. O cachorro é a minha família, o meu tio sou eu, e ele também teria que ser alguém – no caso, o meu ex.

Não me preocupo. Meu problema com psicanalistas é anterior a isso.

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